28.11.07

Há beijos que não se esquecem

O Tempo das Cerejas
"Há beijos que não se esquecem.
Podemos começar assim. Porque todas as histórias são histórias de amor. Mas podíamos também falar das três mulheres portuguesas (Amália, Anita e Teresa) e dos três homens (o francês Fabien, o italiano Julián e o catalão Carlos Ruiz). Aparentemente tão diferentes e tão distantes. Na idade, na sensibilidade, no país onde vivem. E, no entanto, cada um, à sua maneira, na sua cidade europeia, está perdido.
No seu mundo, e no seu tempo. Todos procuram uma fuga. Porque há um momento na vida em que temos de matar algo em nós para podermos continuar vivos. Esse é o tempo das cerejas. Que chega com o sabor da tentação da Primavera e a promessa do Verão. As temperaturas sobem neste Portugal que se enche de música, com os festivais de Verão, onde todas as culturas se misturam. O horizonte da vida amplia-se com uma Europa em crise de identidade.
Hoje, a intimidade encontra-se no café do bairro, no fado que sai das janelas para as ruas de Lisboa, numa esplanada numa cidade italiana, em Lecce, num cemitério de Paris ou num mundo inventado, numa ilha da Second Life. Porque o homem precisa de poder continuar a sonhar. "
Ontem terminei de ler este livro. Um livro diferente. Sei que todos são diferentes, porque ninguém escreve da mesma forma, acerca das mesmas coisas e partindo de experiências iguais. Tudo é diferente.
"O Tempo das Cerejas", além de um blogue de esquerda em homenagem à Comuna de Paris*, é um livro de Claudia Galhós**, o último de uma Trilogia Rock («Sensualistas» de 2001 e «Conto de Verão» de 2002), e o primeiro romance português a ser lançado e passado na Second Life (que será tema para outro post).
Confesso que começou por ser uma leitura lenta e desprendida, mas não desinteressada. Não são os romances que mais me fascinam, é verdade. Mas neste caso, acho que era apenas o peso na consciência por na mesa de cabeceira ao pó, permanecerem outros tantos que merecem ser lidos, por diferentes. Pouco tempo levou a tornar-se uma leitura atenta, na qual me absorvi dia após dia. De um registo melancólico, a escrita muda rapidamente para registos animados, curiosos e cativantes. As passagens eróticas estão presentes, a linguagem dura e vulgar também, fala da família, de Portugal, de muita música, da intimidade, do bairro, da proximidade e da distância, da viagem e de estarmos perdidos. Fala dessas pequenas (ou grandes) mortes que temos de sobreviver para podermos, finalmente, viver outra vez!
É um livro que me fez pensar e reviver. É um livro com o qual me identifiquei de uma forma estranha, e que aconselho a todos os leitores que gostem de uma escrita simplesmente diferente.
"Do que é que te lembras?
O que é que guardaste para ti, como recordação marcante do teu passado, que faz de ti quem tu és hoje?
Quem são os outros?
Pessoas? Personalidades? Acontecimentos? Artistas? Poesia?
Um beijo?
Há beijos que não se esquecem."
*"O tempo das cerejas" é uma canção de Jean Baptist Clément e Antoine Renard e foi escrita em 1866. Anterior à Comuna de Paris. Não é um canto revolucionário, mas uma cançoneta de amor.

7 comentários:

Hydrargirum disse...

Este teu post...mais o facto de ter ido cuscar o blog que mencionas...trouxe-me uma tristeza tão grande....!!!

Palavras aqui recitaste...que poderiam ter saído da minha boca...e sairam....vi fotos que me derrotaram por diversos motivos...!!!

Algo em mim morre...lentamente...e eu não tenho a coragem de o matar para poder viver...

Leila* disse...

Oh Hydra... não quero que estejas triste, é só um livro, pura ficção. =)

Mas tenho de confessar que também me identifiquei com algumas passagens, personagens e mesmo palavras...

Resta-nos pensar nos bons momentos, e agradecer por terem acontecido. Não devemos lamentar só porque já passaram...

Há beijos que não se esquecem*

Beijos =)

M disse...

Gostei muito da tua descrição. Vou aceitar a tua sugestão e comprar uma prendinha a moi même!
Beijinhos

Dezperado disse...

Que bela descriçao sobre o k pensas do livro... vou ter de ir cuscar... sabes como é, curiosidade é curiosidade :)

Helena Magalhães disse...

Se te disser que devoro livros nao acreditas mas é verdade. Sou totalmente viciada em livros, ou podia ser filha do marcelinho e nao saber :p
E nao conhecia esses livros e fiquei totalmente deliciada só com a tua descriçao, pois como ja foi dito la em cima tambem essas palavras poderiam ter saido de mim.

Fala dessas pequenas (ou grandes) mortes que temos de sobreviver para podermos, finalmente, viver outra vez!


Acho que isto diz tudo. Pô acho que vou mesmo ter que ler isso. Se quiseres uns quantos que ja li e te aconselho é so dizeres ;P
Coisas em comum.. gostoo!

Leila* disse...

medusasss: Ainda bem que gostaste da descrição, acredita que vai ser uma boa prenda! :P

Dezperado: Cusca cusca!! Que ao contrário do que dizem a curiosidade não matou o gato!! ;)

Helena: Vou gostar muito de ver essas sugestões :D apesar do monte ali na mesinha, há sempre lugar para mais um, dos bons!! Gostooo*

Ruca! disse...

tens de emprestar esse livro.

pode ser que me lembre de beijos que já esqueci.

outros há que não dá pa esquecer, tá claro.

tixau*